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Rodrigo dos Santos

O DIÁLOGO EM SALA DE AULA: REFLEXÕES SOBRE INTERAÇÕES VERBAIS NO ENSINO
Rodrigo dos Santos
Mestre em História Professor
UFFS/ Laranjeiras do Sul

O texto é oriundo das reflexões, a partir da prática docente, das disciplinas de Fundamentos da Educação, Didática Geral e Organização do Trabalho Escolar e Pedagógico do Curso Interdisciplinar em Educação no Campo: Ciência da Natureza e Matemática (Licenciatura) e do Curso Interdisciplinar em Educação do Campo: Sociais e Humanas (Licenciatura) da Universidade Federal da Fronteira Sul/Campus de Laranjeiras do Sul.  Com base em leituras que serão explanadas no decorrer deste, percebemos como o diálogo é de extrema relevância, não apenas para o Ensino de História, mas para todas as disciplinas na prática realizada em sala de aula.
O diálogo deve ocorrer entre professor e aluno, ou como na perspectiva de Paulo Freire (1983) educador e educando, sempre pensando que os sujeitos da sala de aula aprendem juntos, de forma mútua. A experiência que o educando possui da sua vivência, advindo da experiência, com o confronto entre o conhecimento, advindo do educador. Com esse diálogo, a construção do conhecimento faz sentido tanto para o educando como para o educador, ambos desenvolvendo sua consciência histórica (RÜSEN, 2006).
A ausência de diálogo em sala de aula é um vestígio da Educação Tradicional. Neste tipo de educação, Saviani (1997) aponta que o sujeito que aprende é considerado uma tábua rasa, sem conhecimento algum, e o sujeito que ensino despeja seu conhecimento. Essa perspectiva apresenta um ensino decorado, em que o educador é o detentor do conhecimento e do saber, não considerando as experiências dos educandos. O professor é autoritário e impõe a sua visão de mundo ao educando.
Outro vestígio educacional que atrapalha a prática do diálogo em sala de aula é a Educação Tecnicista. Neste modelo educacional que vigorou, principalmente nos regimes ditatoriais, o sujeito deve ser preparado apenas tecnicamente. Nesta perspectiva a importância do ensino não está no educador ou no educando, mas no sistema produtivo. As relações de produção, no sistema, segundo Saviani (1997), que ditam as regras ensinadas. O sistema que aponta as necessidades técnicas para a escola. Também não se considera o diálogo em sala de aula, mas o objetivo final, a produção. Necessidade de transformar o ensino em mão de obra, para que se tenham braços técnicos para o mercado de trabalho.
A educação não deve ser pautada apenas nessa perspectiva de trabalho industrial. É necessário que a sociedade, enquanto escola, desenvolva o educando, juntamente com o educador num ensino mais humanizado e não embrutecido, nas suas várias dimensões, no que pode ser definido conforme Frigotto (2012) como omnilateral. Os sujeitos devem se desenvolver mutuamente nas suas várias dimensões, técnica e humana. O diálogo tem papel fundamental para atingir esse objetivo, sendo necessário um ensino prazeroso, em que não se esqueça do conteúdo, mas se visualize sentido no que se está ensinando e aprendendo, conteúdo com discussões.
Os pesquisadores Lima e Raboni (2011) e Socha e Marin (2011) apresentam algumas dicas para o diálogo em sala de aula na contemporaneidade. Um diálogo que chame atenção, que desperte a curiosidade do educando. Às vezes o educador, ao ser indagado, apenas afirma que na próxima semana será trabalhado determinado conteúdo. Isso é muito vago. Podemos aproveitar da curiosidade de nosso educando, nem que seja de uma forma sucinta. Além disso, no diálogo é igualmente errôneo apenas dizer sim ou não. O questionamento necessita de uma breve explicação, em forma de resposta.
Esses autores também apresentam o diálogo a partir de aulas práticas. Como experiência Lima e Raboni (2011) mencionam a construção de um sistema com lâmpadas em série e lâmpadas em paralelo, sendo o episódio analisado a partir das falas do docente e dos alunos de uma escola pública que os pesquisadores não têm vínculo. Como resultado da experiência, os autores afirmam que a dimensão verbal aponta para outras dimensões no espaço escolar, destacando problemas na constituição da interação verbal e na cultura das instituições formais de ensino. Entre os problemas da ausência do diálogo encontramos: uma cultura do enraizamento de práticas conservadoras (tradicionais) de ensino, acreditar que as atividades práticas de ensino não são necessárias, a ausência do conhecimento das interações verbais.
Outro fator considerado no diálogo deve ser as dificuldades enfrentadas tanto por educador como educando em sala de aula. Seria utopista chegar a uma sala de aula e promover o diálogo, sem considerar as horas diminutas que o educador têm para o preparo de suas aulas ou a quantidade de educando em sala de aula.  Isso não é afirmar que devemos promover um ensino em que apenas o aluno deva decidir o que se ensina, adentrando ao relativismo epistemológico e cultural, sem parâmetro das pedagogias neoescolanovistas (DUARTE, 2010). O Educador é ainda o sujeito competente, responsável por grande parte do processo educativo, mas sem extremismos. Caso contrário o educador deveria “dar um adeus”, não teria mais significado em uma sociedade em profunda transformação, podendo simplesmente ser substituído por máquinas (LIBÂNEO, 2010).
O educador deve possuir um comprometimento de pelo menos tentar promover esse diálogo em sala de aula, numa aprendizagem significativa e contextualizada. A tentativa é o primeiro dos passos para se alcançar um ensino mais humano. Uma ciência humanizada, se pensarmos o ensino atrelado a pesquisa. O tentar não envolve necessariamente o conseguir, mas é o primeiro. O primeiro obstáculo de muitos que devemos transpor.
Referências Bibliográficas
DUARTE, Newton. O debate contemporâneo das teorias pedagógicas. In: ______; MARTINS, Lígia Márcia. Formação de professores: limites contemporâneos e alternativas necessárias. São Paulo: Cultura Acadêmica, 2010.
FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1983.
FRIGOTTO, Gaudêncio. Educação Omnilateral. In: CALDART, Roseli Salete et al. (Orgs.). Dicionário da Educação do Campo. Rio de Janeiro, São Paulo: Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio, Expressão Popular, 2012.
LIBÂNEO, José Carlos. Adeus Professor, adeus professora? Novas exigências educacionais e formação docente. São Paulo: Cortez, 2010.
LIMA, Guilherme da Silva; RABONI, Paulo César de Almeida. Interações verbais e o uso de atividades práticas no ensino de física. In: RIBEIRO, Arlinda Inês Miranda Ribeiro et al (Org.). Educação contemporânea: caminhos, obstáculos, travessias. São Paulo: Cultura Acadêmica, 2011.
RÜSEN, Jörn. Didática da História: Passado, Presente e Perspectivas a Partir do caso Alemão. Práxis Educativa. Ponta Grossa, PR. v. 1, n. 2, 16, jul.-dez. 2006.
SAVIANI, Dermeval. Escola e Democracia. São Paulo: Cortez, 1997.
SOCHA, Rosana Ramos; MARIN, Fátima Aparecida Dias Gomes. A Dinâmica das interações verbais em sala de aula. In: RIBEIRO, Arlinda Inês Miranda Ribeiro et al (Org.). Educação contemporânea: caminhos, obstáculos, travessias. São Paulo: Cultura Acadêmica, 2011.


4 comentários:

  1. Excelente trabalho. Infelizmente no sistema educacional é mais importante os resultados quantitativos do que o qualitativo, nessa perspectiva os conhecimento dos alunos é examinados através de provas e testes. Esquecendo que a avaliação é o ato de diagnosticar uma experiência continuamente. O ambiente escolar é o espaço de socialização de saberes entre professores e alunos. Cabendo ao professor promover aos alunos o poder da argumentação, interativa e questionadora. E os exames acaba promovendo punição, classificando e selecionando os alunos entre "os bons ou os ruins", e acaba não diagnosticando os conhecimentos prévios e construído pelos alunos durante as aulas.
    Parabéns pelo seu trabalho.

    Aline dos Santos Oliveira (Graduanda de História UNEB/Campus VI).

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  2. Olá Aline! Concordo contigo! Fico questionando como mudar isso. Como construir efetivamente o conhecimento? Como desenvolver a consciência histórica dos nossos estudantes? Quem sabe, um dos caminhos seja o diálogo, essa mediação.

    Rodrigo dos Santos (Professor UFFS/Laranjeiras do Sul).

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  3. Olá Rodrigo. O diálogo sem dúvida é um dos pontos a se desenvolver no ensino de história, assim como na educação em geral. Mas em um mundo, cada vez mais globalizado, onde a comunicação se dá de forma digital, pela internet, e em que as pessoas passam boa parte do dia conectados, o que você tem a dizer em relação a comunicação informatizada na sala de aula e a adaptação dos professores a essas ferramentas?

    Denis Henrique Fiuza

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  4. Olá Denis! A tecnologia é muito importante para a a aprendizagem. Entretanto, não podemos esquecer que o professor tem um papel relevante nessa mediação cultural e não tem como substituir por máquina. A busca por novas tecnologias deve ser um ponto essencial para o professor, mas não podemos esquecer que informação não é conhecimento, e que apesar de muita informação, nem todos tem acesso. Um dica de texto que pode ser útil é o de Libâneo indicado na bibliografia. Esse texto apresenta reflexões interessantes sobre a função de professor na sociedade das novas tecnologias.

    Rodrigo dos Santos (Professor UFFS/ Laranjeiras do Sul).

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