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Aristides Leo Pardo [b]

NO BANCO DOS RÉUS: JULGAMENTOS HISTÓRICOS OU O OUTRO LADO DA MOEDA-A HISTÓRIA VISTA COM NOVOS OLHARES
Aristides Leo Pardo
Prof. Esp. UNESPAR

Pelas presentes linhas iremos discorrer acerca de um projeto que paulatinamente será implantado em minhas aulas, com alunos do Ensino Médio, que visa analisar a História por um outro prisma, fugindo dos livros didático e do lugar comum, fazendo com que uma ampla pesquisa seja realizada em busca das mais diferentes fontes, com o objetivo de realizar um “Julgamento” de personagens históricos escolhidos pela própria turma.
Colocado em prática pela primeira vez este ano, a experiência será um laboratório para que tal prática possa ser aprimorada para os anos seguintes, sendo assim, foi colocado no quadro alguns nomes sugeridos pelo professor, como os do “Ditador” Fidel Castro, do “Assassino” Ernesto Che Guevara, do “Demônio” Adolf Hitler, do “Pai dos Pobres” Getúlio Vargas, dos “Heróis Nacionais” Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes e Zumbi dos Palmares, que foi acrescido de indicações do alunado, como Josef Stálin, Mahatma Gandhi, Saddan Hussein, Leon Trotsky, George Bush, Nelson Mandella e “Ditadura Militar Brasileira”, tendo sido o escolhido para ser “julgado” pela turma, o recém falecido líder da Revolução Cubana de 1959, Fidel Castru Ruz (1926-2016).
Um personagem citado por um dos alunos, que merece aqui sua citação, pois despertou surpresa e curiosidade deste professor, foi o nome do Papa Francisco, apontado por uma reportagem de Nepomuceno (2013, p. 46-52), como cúmplice (ou ao menos omissão), quando na época em que era, o Cardeal Jorge Mário Bergoglio, de Buenos Aires, acerca das atrocidades da Ditadura Militar de seu país, liderada pelo General Vidella, mostrando o comprometimento do alunado com a atividade proposta.
O grupo foi dividido em um “juiz”, cinco “jurados”, advogados de acusação e de defesa, que terão que colher provas contra o “réu”, acusado de ser um terrível ditador e causador da desordem da paz mundial. Após algumas orientações foi indicado algumas obras literárias para que acusação e defesa pudessem dar seu pontapé inicial no caso.
O grande objetivo desta ação, é não ficar somente no que nos dizem a grande mídia e o senso comum, buscando diversas fontes para que possamos desfazer algumas ideias prontas e que durante o “julgamento”, cada participante possa dar seu próprio veredito, pautado pelas “provas” apresentadas pela acusação e pela defesa do personagem em questão, pois como nos diz Carvalho (2000, p. 13) que: “O passado serve ao futuro no presente, por quê? Porque todo julgamento infalivelmente depende de comparação. Ora, haverá melhor parâmetro do que o registro das ações, fruto do comportamento humano”.
E essa comparação, mediante vasta pesquisa será realizada pelo alunado que de maneira individual, ou em duplas, darão seu veredito em forma de texto, que será uma das avaliações deste exercício histórico, como nos fala Veyne (1998, p. 11), ao afirmar que:
A história é uma narrativa de eventos. Todo o resto resulta disso. Já que é de fato, uma narrativa, ela não faz reviver esses eventos, assim como tampouco o faz o romance; o vivido, tal como ressai das mãos do historiador, não é o dos atores; é uma narração, o que permite evitar alguns falsos problemas, Como o romance, a história seleciona, simplifica, organiza, faz com que um século caiba numa página. VEYNE, 1998, p. 11).
Após algumas indicações literárias por parte do professor, como as obras “Alina” (Alina Fernandez, 1998), “A Ilha” (Fernando Morais, 1976), “Os Meninos do Dolores” (Patrick Symmes, 2009), entre algumas reportagens e documentários, para que o pontapé inicial das pesquisas possam ser efetuados e acompanhados de perto.
Dessa maneira, poderemos analisar o personagem “julgado” de todas as formas possíveis, desmistificando o foco único, difundido pelos livros didáticos mais antigos e pela grande mídia, fruto da “Sociedade do Espetáculo” termo cunhado por Debord (1997, p. 11) e seguindo novamente a ideia de Veyne (1998, p. 18), que afirma que:
Quando dirigimos nossos olhares para o arcaico não conseguimos trazer a história em sua totalidade, mas apenas seus fragmentos (...), o preenchimento lacunar a partir da construção de nosso interesse e curiosidade sobre os fatos que ora narramos.
Como este texto narra uma experiência que está sendo colocada em prática pela primeira vez, por este que vos escreve, não há uma nota conclusiva, que espero divulgar em outra oportunidade, relatando o desenrolar desta atividade, porém, o leque para que esta prática se prolongue ano após ano, sempre estará aberta, pois não são poucas as personalidades que são retratadas de maneira uma e que poderão ser “julgadas” pelos mais diferentes prismas.

Referências
CARVALHO, Waldir P. Campos Depois do Centenário, 2. ed. v. 3. Campos dos Goytacazes: Vionetos e Filhas, 2000.
DEBORD, Guy. A Sociedade do Espetáculo. Rio de Janeiro: Contraponto, 1997.
JAPE, Anselm. Guy Debord. Petrópolis: Vozes, 1999.
NEPOMUCENO, Eric. Francisco ou Pilatos? Revista Carta na Escola, nº 76, São Paulo: Carta Capital/Confiança, 2013.

VEYNE, Paul. Como se Escreve a Historia e Foucault Revoluciona a Historia. 4. ed. Brasília: Universidade de Brasília (UnB), 1998.

12 comentários:

  1. Pois para sermos bons historiadores precisamos saber investigar ir além da imaginação pra descobrimos os fatos.
    Não se faz história sem investigação.
    Gostaria de saber como podemos ser bons historiadores cada vez mais?

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    1. Cara Francisca, primeiramente obrigado por prestigiar meu texto.
      Uma das maiores dificuldades da contemporaneidade é prender a atenção dos alunos e fazer com que o mesmo leve seus estudos para além sala de aula e transforme a história em diversão, como o ato de pesquisa, assistir filmes e assim descobrir um "novo mundo". Somente através de pesquisas e leituras que seremos cada vez mais bons historiadores, já que um grande problema sobre esse tema é de professores que se formam, entram na sala de aula e nunca mais se voltam para pesquisa, não participam de eventos (como este, que é o line) e não se reciclam. espero ter respondido seu questionamento. Abraços

      Aristides Leo Pardo (tidejor@gmail.com)

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Prezado Aristides, boa noite! Inicialmente, quero lhe parabenizar pela iniciativa e dizer que sua pesquisa me encantou, em boa parte pelo fato de eu ser bacharel em Direito. Gostaria de saber se para a elaboração da dinâmica dos julgamentos de personagens históricos que serão levados a efeito em sala de aula, o senhor de apoiou nos dispositivos legais que cuidam do procedimento do tribunal do júri no âmbito do Código de Processo Penal. Obrigada. Ana Carolina de Matos Abdulmassih Vessi

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    1. Cara Ana, Obrigado pela sua pergunta e por prestigiar meu texto.
      Não entrei no âmbito legal, porém deixando os alunxs livres, lembrando-os, que cada país tem suas legislação e cada época também. Não pude deixar de lembrar que o Nazismo, a Escravidão e o Apartheid Sul Africano foram "legais" perante a legislação de sua época e de seu país. Aproveitei para mostrar o Código de Hamurabi, As Ordenações Filipinas e a "Constituição da Mandioca" de 1824. Este é um projeto em experimental e espero em breve divulgar os primeiros resultados. Aproveito para sugerir que pesquise o caso de "Mota Coqueiro", conhecido como "A Fera de Macabu", um interessante erro jurídico nos fins do Império do Brasil, tem bastante coisas na internet. Abraços
      Aristides Leo Pardo (tidejor@gmail.com.br)

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  4. Bom dia Aristides!!

    Primeiramente parabéns pelo texto e pela proposta feita em sala de aula, é de grande valia e acredito também ser a principal função do professor despertar o senso crítico, irei aplicar com toda certeza esse método.
    A minha pergunta é se os alunos se sentiram a vontade de expor suas opiniões e se conseguiram apoiar-se em fatos e comparações de fontes como a mídia, que ora deturba os fatos ora auxilia no entendimento.
    Grata desde já pela atenção.

    Libiane

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    1. Bom Dia Libiane. Agradeço por prestigiar meu texto e pela pergunta. Desde minhas primeiras aulas, deixo os alunos bem a vontade para expor suas ideias e o debate em minhas aulas são costumeiros. Como é a primeira tentativa deste projeto, as percepções da realidade apresentada nas bibliografias com a comunicação de massa estão chamando bastante a atenção do alunado e espero em outra oportunidade estar disponibilizando os primeiros resultados desta experiência. Espero ter respondido seu questionamento. Abraços

      Aristides Leo Pardo (tidejor@gmail.com.br)

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  5. Bom dia Tide! Assim como na edição anterior do Simpósio, achei seu texto interessantíssimo. Parabéns pela iniciativa!! Minha pergunta é: Quanto tempo leva a preparação dos alunos até que a parte do julgamento aconteça?

    Greyce Cunha

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    1. Este comentário foi removido pelo autor.

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    2. Olá Greyce. Obrigado por prestigiar meu texto mais uma vez. Essa pergunta eu não saberei responder pois é um projeto experimental e eu coloquei como uma das avaliações para o 4º Bimestre, pois exige uma ampla pesquisa, porém, mensalmente entramos no assunto para tirar dúvidas e ver o andamento das pesquisas e está bem legal os resultados parciais. Pode até ser que possa ser feito em menos tempo. Espero em breve divulgar os primeiros resultados. Abraços

      Aristides Leo Pardo - TIDE (tidejor@gmail.com)

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  6. Primeiramente, que texto maravilhoso, parabéns! Gostaria de saber, como podemos abordar essas questões em sala de aula, na sua opinião a imparcialidade dos fatos deve sempre prevalecer? Alana Albuquerque de Castro

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    1. Olá, Alana, obrigado por prestigiar meu texto. Sim, a imparcialidade deve vir em primeiro lugar e esse personagem escolhido pelos alunos (acho que propositalmente) será bastante interessante, pois teremos um filho de militar, abertamente anticomunista e este que vos escreve, que tem em Fidel Castro, seu personagem histórico favorito. Emprestei aos responsáveis pela "acusação", o livro de Alina Fernandez, filha biológica de Fidel, motivo que causou surpresa e espanto entre eles e assim, através de uma ampla pesquisa, estaremos construindo este projeto. Espero ter deixado claro seu questionamento. Abraços

      Aristides Leo Pardo (tidejor@gmail.com)

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